Nenhuma ciência quis conhecer a categoria mais objetiva do saber: a do sujeito conhecedor.Nenhuma ciência natural quis conhecer a sua origem cultural.Nenhuma ciência física quis reconhecer a sua origem humana. (Morin)
O homem desde sua concepção até sua morte está sucumbido a fragmentações e dissociações do seu corpo e consciência em objetos científicos e estruturais. Mutilado como sujeito animal e espírito, acaba ficando perdido e confuso diante da realidade sensível em que vive, e principalmente da ligação inexorável de sua mente com o mundo. É nesse contexto que Edgar Morin nós apresenta O método da natureza da natureza, como uma forma de reflexão sobre esse ponto fundamental do conhecimento humano.
Embora esse texto não seja uma resenha sobre o livro do
autor, quero apresentar alguns pontos sobre o pensamento de Morin, sobre a
ligação da natureza, homem, sociedade e sua relação fundamental que se articula
sobre conceitos fundamentais, que a ciência clássica sempre separou e afastou
como principais diferentes e separados.
O problema da ciência
da ciência
Embora seja fundamental a ciência sempre buscou suprimir seu
objeto em uma parte individual e única de influencias externas, capaz de
encontrar um método essencial de verdade e objetividade simples. Com Edgar
morrin, o objeto cientifico é indissociável do mundo natural , como o
conhecimento transcrito sobre o objeto também é fruto individual do
observador.Tudo isso se articula numa relação sistemática produtora de
conhecimento e saberes culturais, que então se articulam sobre si mesma em um
circuito cíclico de experiências e saberes fundamentais. Morin:
Aqui, nós devemos perceber que está questão não tem uma resposta cientifica: a ciência não se conhece cientificamente e não tem nenhum meio de se conhecer cientificamente.
O pensamento complexo introduz a ciência não somente um
discurso totalizante e generalista do homem, mas tenta encontrar e
principalmente estabelecer um ponto fundamental (pelo menos refletir sobre um),
no problema central do conhecimento cientifico: A categorização da natureza. Conceito
que fundou a ciência Cartesiana clássica.
Não vou tratar aqui excepcionalmente de todas as teorias
fundamentais de Morrin, mas da ideia essencial da desordem como pilar da concepção
cientifica do universo.
Desordem: Caos
“Antes de tudo surgiu o caos, depois a Terra de amplo seio,
para sempre firme alicerce de todas as coisas” (Hesíodo)
O caos é uma entidade filosófica e cosmológica presente em
praticamente todas as mitologias e “surge” como ponto primordial de quase todas
as religiões. É o principio de tudo, e provavelmente o Deus mais antigo de
todos. É referenciado muitas vezes de forma ambíguo seja como uma substancia totalizante
(cosmológica) como ausência de sustâncias (vazio primordial). Na teoria
complexa o caos representa o ponto fundamental da ordem e essência das coisas. É indissociável da natureza, ligado de forma intrínseca
com a ordem e a separação do homem do seu objeto de conhecimento. É a desordem
genésica.
A ordem acaba decompondo sobre o mundo, uma organização
humana da realidade e exprime do seu saber, elementos essenciais de experiências
da natureza. A ciência enquanto se fecha numa ordem organizadora rígida, acaba
se isolando das transformações como experiências de uma nova ordem fundamental.
Morrin encontra na termodinâmica, um discurso elementar
daquilo sobre a própria realidade física do discurso complexo sobre a matéria. Da degradação da energia à degradação da
ordem: o surgimento da desorganização.
A primeira
lei da termodinâmica: princípio da
conservação de energia: Estabelece que toda energia permanece constante
num sistema fechado, através de transformações.Não se pode criar energia do
nada.Toda matéria no universo estabelece troca e transformações. Esse devir energético
e material surge como fonte primordial do caos categórico do universo, transforma
e molda a ordem a partir de suas relações singulares, criando assim os sistemas.
Assim, toda degradação energética
estabelece uma entropia interna num sistema, modificando assim a ordem sistemática.
A transformação para Morrin, não se estabelece numa ordem degenerativa do sistema,
como na física clássica, mas numa força que resulta em uma ordem direita do sistema, seja em suas
transformações ou alternações de jogo funcional.
Isso está associado diretamente à
segunda ordem da termodinâmica: A transformação de uma energia ocorre em uma
direção plana essencial do sistema. Ela não pode ser convertida integralmente.
Um objeto frio pode converter sua energia para o calor, mas o oposto não é possível.
Diante disso é essencial estabelecer uma ordem natural. Nesse sentido a desordem estabelece uma
ordem regenerativa das coisas. Uma desordem organizadora.
A microfisica
com o átomo, neutros e elétrons cria uma “desordem” funcional quando estabelece
que o sistema em eles estão interligados, se fortalecem numa dimensão “caótica”
e não mais definível e direita como na física clássica. Seja a posição do elétron,
o quantum e suas particularidades. Na macrofisica o conceito se estende além
dos limites quando define o universo como um sistema fechado/aberto de
transformações energéticas de interações elementares. É desintegrando-se que o cosmo se organiza.
A desordem,
se associa-se ao movimento, a diversidade, a falta de pontos fundamentais onde
o homem se re cogita sobre a
realidade.É sobre a desordem que a
ordem se organiza, onde o homem se fragmenta e imprime a realidade de sua existência. É a geradora de cosmogenesse, de processos e de todas as totalidades.
O caos representa a ordem substantiva do universo do homem.
É através da
desordem gerativa que os elementos são dispostos e decompostos no jogo das
organizações, estabelecem relações singulares, definindo suas propriedades
únicas.A ordem surge
como forma dessas disposições, organizações. Diferente de um fundamento, a
ordem, associa os elementos em conceitos e formas que constituem um princípio
essencial de desordem gerativa cíclica.
Em uma próxima postagem vou tratar da natureza fundamental da ordem e do caos, enquanto relações circulares fundamentais.
REFERÊNCIAS:
MORRIN, Edgar. O método 1: A natureza da natureza. São Paulo. Ed Sulina. 2002.
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